terça-feira, 20 de outubro de 2009

Teologia Não-descartável

Tudo começou, se me lembro bem, com a praticidade das garrafas de refrigerantes descartáveis. Naquela época ainda precisávamos fazer "vales" e devolver "cascos". Então surgiram as garrafas descartáveis, e um após o outro os produtos se tornaram descartáveis, fraldas, copos e pratos, embalagens, livros estudantis, etc... Como deuses, somos autores de uma outra criação, o mundo descartável. Nele nada é definitivo, nada é permanente, nada é duradouro. É a sociedade do "fast food", onde não se degusta ou digere, não se reflete, não se medita, não se pondera, apenas se consome. Se um eletrodoméstico apresenta defeito o substituímos, se uma relação apresenta dificuldades a descartamos, se um projeto apresenta obstáculos nós o abandonamos, se uma pessoa apresenta problemas nós desistimos dela, afinal já consumimos o suficiente. Tudo é descartável. Não demorou muito para transferirmos nosso know-how em descartar para a teologia. A febre do descartável é tão contagiosa que transformou as doutrinas históricas em peças obsoletas de antiquários, bonitas para serem observadas, mas sem funcionalidade. A teologia se tornou refém das novidades, cuja característica principal é serem descartáveis. A nossa fé é alimentada por novas formas de adorar, novas formas de crer, novas formas de ser cristão. As chamadas igrejas evangélicas buscam obcecadamente novas fórmulas de oração, novas fórmulas de relacionar-se com a igreja e com Deus. Tornar-se membro de uma igreja é coisa do passado, agora apenas a freqüentamos. Não me comprometo mais com uma doutrina, e não confesso mais uma fé, apenas compartilho, dessa forma é mais fácil descartar tanto a igreja quanto à fé que ela professa. Essa cultura do descartável está impressa em nossos corações e expressa em nossos relacionamentos. Já somos conhecidos como a geração da futilidade, dos sentimentos fugazes, das pessoas volúveis e descomprometidas. As promessas não são "para sempre", os compromissos não são duradouros, os relacionamentos não são permanentes, e até a vida não é mais eterna. As pessoas, como os eletrodomésticos, são consumidas e descartadas. Os relacionamentos têm prazo de validade e a fé tem termo de garantia por tempo limitado. Não somos mais servos de Deus, mas prestadores de serviço sem vínculo. Não somos mais adoradores de Deus, mas consumidores de religião. Descobrimos, de repente, que todos os nossos relacionamentos são passageiros, fugazes, volúveis, voláteis, inconstantes e transitórios. Nos acostumamos tanto a descartar, que agora descartamos pessoas e relacionamentos, inclusive o que temos com Deus. A ironia é que faço esta reflexão em um boletim descartável. Seu fim será, provavelmente, ser esquecido em um dos bancos da igreja ou ser jogado em um cesto de lixo qualquer. Seria uma frustração, não fosse a convicção de que Deus é eterno (Is.40:28) e de que ele nos amou com amor eterno (Jr. 31:3). Por meio de seu propósito eterno (Ef. 3:11) nos concedeu vida eterna (João 3:16), e nos faz lembrar que as suas misericórdias e as suas bondades são desde a eternidade. (Sl 25:6). Esta convicção pode nos conduzir de volta a obedecer permanentemente a sua lei (Ex. 12:24), a temê-lo para sempre, porque Deus é sempre o mesmo, e os seus anos jamais terão fim. (SI. 102:27). Assim, podemos nos relacionar e nos comprometer com ele dizendo: "Louvarei ao SENHOR durante a minha vida; cantarei louvores ao meu Deus, enquanto eu viver".(SI. 146:2).
Joer Correa Batista, pastor da
Primeira Igreja Presbiteriana de Goiania

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